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“Três Graças”: “Novela traça retrato de como estamos como sociedade”, diz Aguinaldo Silva

"Três Graças": "Novela traça retrato de como estamos como sociedade", diz Aguinaldo Silva

Lígia Maria das Graças, Gerluce Maria das Graças, Joélly Maria das Graças. Avó, filha e neta que compartilham nome, teto e infortúnios. Ficaram grávidas precocemente e só dependem delas mesmas e uma das outras para alimentar a próxima geração.

Parece coisa de novela, e é — as três (Dira Paes é Lígia; Sophie Charlotte faz Gerluce; e Alana Cabral, a Joélly) são o núcleo central de “ Três Graças”, que estreia nesta segunda-feira (20), na faixa das 21h da TV Globo no lugar de “Vale Tudo”.

Mas também espelham a vida real. Segundo o Censo de 2022, o último do IBGE, 49,1%, ou seja, quase metade dos lares brasileiros são sustentados por mulheres.

“Essa novela traça um retrato de como nós estamos atualmente como sociedade”, diz o autor, Aguinaldo Silva, que retorna à emissora, agora num contrato por obra, depois de seis anos. — Claro, essa não é nossa intenção principal. Fazemos ficção, melodrama, ou seja, entretenimento. Mas quando você pode entreter o telespectador e, ao mesmo tempo, mostrar certas mazelas, acho que fica mais consistente.

Aguinaldo, que começou a trabalhar no início dos anos 1960 como repórter de polícia, assina a obra com Virgílio Silva e Zé Dassilva (“herdei do jornalismo a noção de equipe”, diz), mas teve a ideia da sinopse há cerca de 20 anos, ao observar a fila da Maternidade Leila Diniz, na Barra da Tijuca, na Zona Oeste do Rio. Chegou bem cedo para uma pesquisa e observou que maioria das grávidas eram meninas. A presença de homens era escassa. Na casa das Graças, é nula (veja mais personagens no box da página 2).

“Essas três mulheres da novela estão ali numa repetição, num eterno retorno de uma história de gravidez na adolescência”, diz Sophie Charlotte, a Gerluce, que, logo no capítulo de hoje, descobre que a filha, Joélly, de 15 anos, está grávida. “A escolha do Aguinaldo de ter essa casa feminina, de mães solos, manda um recado muito forte sobre quem é o centro pulsante da nossa sociedade”.

Apesar da crueza da realidade, “a condução artística é de uma tragicomédia”, pouco naturalista, diz Sophie. Dira Paes, cuja personagem Lígia tem uma severa doença pulmonar, completa:

“O texto do Aguinaldo nos dá momentos de extrema leveza, como é a vida mesmo. Ninguém passa o dia chorando, ninguém é inteiro só de um jeito. Mas é uma novela de tintas fortes”.

Grazi Massafera é Arminda em “Três Graças” | Foto: TV Globo/Divulgação

Questionamento ético

A doença da Lígia é o gancho para um questionamento ético importante na trajetória de Gerluce (“qual o limite da busca da justiça, de defender quem você ama?”), que, por sua vez, nos ligam aos vilões da trama, Arminda e Ferette ( Grazi Massafera e Murilo Benício).

Amantes e sócios, eles estão por trás da falsificação dos remédios que são distribuídos gratuitamente na comunidade paulistana da fictícia Chacrinha, por meio de um subsídio governamental. Lígia é uma das pessoas que recebe esse remédio.

Gerluce, por trabalhar na casa de Arminda, descobre a falcatrua e rouba o dinheiro vivo desviado. Ele fica guardado dentro de uma estátua das “Três Graças”, uma representação em gesso das deusas gregas Aglaia, Eufrosina e Tália, as filhas de Zeus que, na mitologia grega, representam a beleza, o encanto, a alegria e a abundância.

O Ferette é o tipo de vilão que a gente, atualmente, vê todos os dias no noticiário”, diz Aguinaldo. “O mais característico da Arminda é a ostentação, ela está sempre “no tipo”. As pessoas vão rir dela, embora saibam que é uma mulher horrorosa”.

Uma espécie de Nazaré Tedesco, a vilã criada pelo autor para “Senhora do destino”, em 2004, interpretada por Renata Sorrah e imortalizada nos memes?

“Arminda é uma Nazaré, vamos dizer assim, mais sofisticada”, diz o autor. “Nazaré, por trás de todos aqueles cabelos louros, era uma mulher do povo. Arminda não, ela acha que tem direitos que foram dados por uma questão de classe”.

Aguinaldo garante que a vilã de Grazi vai fazer “coisas absolutamente inesperadas e surpreendentes”, que vão desafiar a lógica. Afinal, ele escreve novela e não mais reportagens.

“As pessoas podem dizer: “ah, mas ninguém é assim”. Claro que ninguém é assim, porque não é vida real, é ficção”, diz o autor, vivendo no momento entre o Rio e São Paulo, mas morrendo de saudades de Lisboa, onde mora. “É possível que volte no fim de novembro se tudo correr bem. Hoje em dia você escreve de tudo quanto é lugar”.

E isso não atrapalha os feedbacks, que ele antes tirava de papos na padaria, supermercados e por aí afora.

“Lembro que, na época de “Senhora do destino”, quando eu queria saber o que os homens estavam achando da novela, ia para o botequim da esquina, porque eles viam a novela lá. Eu ficava no meio de um bando de marmanjo, ouvindo os comentários sobre a Nazaré. Hoje, você tem a internet, que é um vastíssimo botequim da esquina”.

Sarcástico e debochado

Aguinaldo Silva, como boa parte do Brasil, se encantou por Grazi Massafera no Big Brother Brasil 5 — e torceu por ela, ele diz. Vinte anos depois, pensou na ex-BBB para interpretar a vilã de “Três Graças”, a primeira personagem do tipo em sua carreira na TV.

“O texto é sarcástico e debochado, e espero que o público se divirta”, diz Grazi. “Porque de início eu não me diverti, não. Fiquei muito nervosa em pensar como que eu ia fazer isso. Agora, estou começando a relaxar”.

Além de estar envolvida num esquema de falsificação de remédios, a Arminda de Grazi maltrata a mãe, Josefa (Arlete Salles), e o filho, Raul (Paulo Mendes). A funcionária Gerluce, então, nem se fala.

“A trama traz uma reflexão sobre o cuidado com os nossos idosos, por exemplo. A gente desacredita que a pessoa está falando isso e vem um riso de nervoso”.

A primeira novela de Grazi, “Páginas da vida” (2006), foi, coincidentemente, a estreia de Sophie Charlotte, que celebra, neste trabalho que estreia hoje, a sua primeira protagonista.

“Foram 20 anos de muitas oportunidades maneiras. Meu filho está com 9 anos e está vendo as chamadas na TV”, diz a atriz, sobre Otto, fruto da relação com o ex, Daniel Oliveira. “É bonitinho perceber a relação dele com meu trabalho. Estou mais ausente, gravo bastante. Toda mulher que trabalha vive esse dilema insolúvel, mas ele sabe que eu amo o que faço. e está vibrando comigo porque sou a mocinha (risos)”.

Dira também celebra, neste 2025, o dobro de experiência das colegas: 40 anos de carreira. Anda colhendo os frutos dos filmes “Pasárgada”, que marca sua estreia na direção, e de “Manas”, de Marianna Brennand, recentemente distribuído no exterior pela produtora de Sean Penn. Na TV, voltou para a comédia como Conceição na série “Pablo & Luisão”, do Globoplay, sobre a família de Paulo Vieira, humorista que criou a série.

“Estou incluindo “Três Graças” num ano lindo. Uma obra popular para me conectar com o grande público”, diz ela. “Não faço novela desde “Pantanal”, em 2022 e, neste ano, já comecei a sentir essa conexão com “Pablo & Luisão”. Toda vez que uma (criança) banguelinha ri pra mim sei que assistiu à série”.

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