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Uma das melhores séries de 2025 está na Netflix e talvez você nem tenha notado

O trabalho na polícia tem minudências que distinguem-no de qualquer outra atividade laboral, seja lá o ponto de vista que se queira admitir. Para princípio de conversa, policiais, na teoria, não tiram folga nunca, e o senso de se fazer justiça sem os tantos rodeios dos trâmites processuais — que nem sempre chegam aonde deveriam chegar — continuam a fazer parte da rotina daqueles que empenham seus melhores anos a combater o perigo imanente das ruas, desafiados por um instinto de sobrevivência a toda prova. Sem medo de soar comercial, “Dept. Q” vem embalada no papel brilhante das séries policiais, as queridinhas do público, mas extrapola rótulos. Adaptado da série de livros do dinamarquês Jussi Adler-Olsen, o roteiro de Scott Frank coloca a fala certa na boca de cada um dos personagens, levando a história da moderna Copenhague para Edimburgo, um das praças europeias em que o gótico melhor se acomodou. Ao longo de nove episódios, Frank expõe os obstáculos de um grupo de detetives que tenta solucionar um caso particularmente difícil. Nada de novo, mas divertido ainda assim.

Carl Mørck não tem nenhum pejo de ostentar o estereótipo do detetive talentoso e casmurro, e esses dois atributos são decisivos para seu sucesso profissional. Mørck faz questão de justificar seu sobrenome, e espalha trevas por onde quer que passe, apesar de seus colegas não serem nenhum exemplo de civilidade. Todas as suas frases têm um sarcasmo vívido, que brota das fissuras psicológicas de uma alma em desalinho, e ao observá-lo o público consegue entender muito do que vem depois. “Dept. Q” rompe com Mørck e seu parceiro, James Hardy, investigando o homicídio de um velho, morto com uma facada no crânio, e diante do cadáver os dois trocam impressões sobre as possíveis circunstâncias que levaram àquele desfecho, quando tomam um susto real. Uma figura mascarada entra atirando, mata o policial que documenta o trabalho da equipe e fere gravemente Hardy, que fica tetraplégico. Frank abusa da imaginação e anota que a bala só não se chocou contra o peito de Mørck porque foi amortecida pela coluna de Hardy, trauma que o investigador leva para as seções da doutora Rachel Irving, de Kelly Macdonald.

Hardy continua na polícia, mas enclausurado no porão da unidade, o tal Departamento Q, junto com as “questões”, os casos arquivados. O que mais tem intrigado os agentes é o sumiço de Merritt Lingard, a jovem promotora interpretada por Chloe Pirrie, a subtrama que se impõe ao andamento da narrativa central, e traz algumas revelações inesperadas em paralelo ao que o diretor esmerava-se para mostrar. A lenta recuperação de Mørck coincide com a formação de um novo quadro de colaboradores, e nesse instante Matthew Goode tem a chance de liderar o azeitado elenco de coadjuvantes, a começar pelo excelente Alexej Manvelov na pele do metódico Akram Salim, bem-vindo contraponto ao temperamento mercurial do chefe. A dupla formada por Mørck e Hardy, sobretudo na introdução, prepara a audiência para o horror explícito da conclusão, de um refinamento narrativo que salta aos olhos. Em “Dept. Q”, nunca se tem certeza quanto a quem são os

policiais e os delinquentes, os vilões e os mocinhos, e só isso já é uma boa razão para encarar as nove horas de enredo, demasiadas para uns tantos sabidos.


Série: Dept. Q
Criação: Scott Frank e Chandni Lakhani
Direção: Scott Frank 
Ano: 2025
Gêneros: Policial, suspense, drama 
Nota: 8/10



Fonte

Redação

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