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Suspense no Prime Video explora lado mais perturbador de Jonathan Rhys Meyers em jogo psicológico sombrio

Suspense no Prime Video explora lado mais perturbador de Jonathan Rhys Meyers em jogo psicológico sombrio

O ponto de partida de “O Bom Vizinho” é direto e incômodo: dois homens comuns atropelam uma ciclista numa estrada deserta e decidem fugir. Não há elaboração sofisticada para esse gesto inaugural, apenas a constatação fria de uma escolha errada que passa a organizar tudo o que vem depois. David, interpretado por Luke Kleintank, é o motorista e também um jornalista em início de carreira. O acaso cruel o empurra para uma situação ainda mais perversa quando ele recebe a incumbência profissional de investigar o atropelamento que ele próprio causou. A partir daí, o filme constrói sua tensão não em reviravoltas engenhosas, mas na corrosão lenta da consciência. O interesse está menos no crime em si e mais na incapacidade de seus protagonistas de lidar com o peso do que fizeram.

David como vetor de culpa

David é desenhado como um sujeito passivo, pouco afeito ao confronto, e Kleintank sustenta essa fragilidade com coerência. Sua apatia não soa acidental: ela funciona como traço estruturante do personagem. É justamente essa ausência de firmeza que permite que ele seja conduzido pelos acontecimentos, pelas circunstâncias e, sobretudo, por Robert. O envolvimento amoroso com Vanessa, vivida por Eloise Smyth, irmã da vítima, reforça esse traço. David não se aproxima dela por cálculo consciente, mas por uma mistura de autopunição e desejo de normalidade. O romance, ainda que central para o enredo, nunca se aprofunda de fato, servindo mais como dispositivo narrativo do que como relação viva. O suspense repousa quase exclusivamente na expectativa do momento em que a verdade virá à tona.

Robert e a lógica do controle

Jonathan Rhys Meyers domina o filme ao interpretar Robert, o vizinho aparentemente solícito que estava no carro na noite do atropelamento. Seu personagem opera pela lógica do controle e da antecipação. Robert pensa sempre alguns passos à frente, entende as fraquezas de David e sabe explorá-las com eficiência. Há indícios claros de uma atração mal resolvida, que se mistura a ressentimento e desejo de posse, mas o roteiro opta por não desenvolver essa camada de forma consequente. Ainda assim, Meyers constrói uma presença inquietante, sustentada por gestos contidos e uma fala calculada. Quando Robert está em cena, o filme encontra seu eixo dramático mais sólido, deixando evidente o desequilíbrio entre os dois homens.

Estrutura, ambientação e limites

Narrativamente, “O Bom Vizinho” avança com ritmo regular, mas tropeça em coincidências excessivas e decisões pouco convincentes, especialmente no último ato. O desfecho de Robert parece apressado e contradiz a inteligência estratégica que o personagem havia demonstrado até então. A ambientação na Letônia é outro elemento problemático. Apesar de visualmente neutra, ela não interfere na dinâmica da história nem acrescenta camadas culturais ou simbólicas relevantes. A investigação jornalística, que poderia aprofundar o dilema ético de David, permanece superficial. O resultado final é um thriller funcional, sustentado quase integralmente pela atuação de Jonathan Rhys Meyers, que eleva um material irregular a um patamar mais digno. Sem ele, o filme dificilmente ultrapassaria a mediania.

Filme:
O Bom Vizinho

Diretor:

Stephan Rick

Ano:
2022

Gênero:
Crime/Mistério/Suspense

Avaliação:

8/10
1
1




★★★★★★★★★★



Fonte

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