Nordeste Magazine
Cultura

O que há na caverna mais profunda do mundo?

O que há na caverna mais profunda do mundo?

A Caverna Veryovkina, localizada na região da Abecásia no Cáucaso, é oficialmente a caverna mais profunda conhecida na Terra, com 2.212 metros de profundidade. Suas descobertas científicas incluem mais de 20 espécies desconhecidas de organismos que vivem em completa escuridão.

Esta maravilha subterrânea esconde tanto tesouros científicos quanto perigos mortais, tendo se tornado palco de tragédias que marcaram para sempre a espeleologia mundial.

A história da exploração da Veryovkina começou em 1968, quando espeleólogos russos da cidade de Krasnoyarsk descobriram a entrada e conseguiram descer apenas 115 metros – Fonte: (Wikimedia Commons)

A jornada épica até as profundezas da Terra

A história da exploração da Veryovkina começou em 1968, quando espeleólogos russos da cidade de Krasnoyarsk descobriram a entrada e conseguiram descer apenas 115 metros. O que parecia ser mais uma caverna comum revelou-se um dos maiores desafios da espeleologia mundial.

A caverna recebeu seu nome em homenagem a Alexander Veryovkin, um espeleólogo experiente que morreu tragicamente em 1983 durante uma expedição na caverna Su-Akan, na região de Kabardino-Balkaria. Em 1986, uma nova equipe de Moscou conseguiu atingir 440 metros de profundidade, marcando o início de décadas de exploração sistemática.

O verdadeiro avanço começou em 2015, quando o grupo Perovo-Speleo iniciou expedições regulares que gradualmente quebraram recordes mundiais. Em março de 2018, eles finalmente alcançaram o impressionante marco de 2.212 metros, superando a rival Caverna Krubera por apenas 15 metros.

Quais criaturas vivem a 2 quilômetros de profundidade?

As descobertas mais fascinantes da Veryovkina não são geológicas, mas biológicas. No fundo da caverna, onde jamais chega luz solar, cientistas descobriram um ecossistema único com mais de 20 espécies de organismos completamente desconhecidos pela ciência.

Essas criaturas extraordinárias incluem:

  • Sanguessugas adaptadas à escuridão total e baixas temperaturas
  • Pseudoescorpiões que desenvolveram sentidos aguçados
  • Centopéias com características únicas de navegação
  • Organismos microscópicos que sobrevivem sem fotossíntese

Segundo Ilya Turbanov, pesquisador do Instituto de Biologia de Águas Interiores Papanin, essas espécies endêmicas passaram por milhões de anos de evolução em completo isolamento. Elas desenvolveram adaptações extraordinárias para sobreviver em temperaturas constantes entre 4°C e 7°C, umidade de 100% e pressão atmosférica extrema.

O ecossistema se concentra principalmente em torno dos “sifões” – lagos subterrâneos que os exploradores apelidaram de “Última Parada do Capitão Nemo”. Essas águas cristalinas abrigam uma biodiversidade surpreendente que pode revolucionar nossa compreensão sobre a vida em ambientes extremos.

A história da exploração da Veryovkina começou em 1968, quando espeleólogos russos da cidade de Krasnoyarsk descobriram a entrada e conseguiram descer apenas 115 metros – Fonte: (Wikimedia Commons)
A história da exploração da Veryovkina começou em 1968, quando espeleólogos russos da cidade de Krasnoyarsk descobriram a entrada e conseguiram descer apenas 115 metros – Fonte: (Wikimedia Commons)

A tragédia que chocou o mundo da espeleologia

Em 2021, uma descoberta macabra abalou a comunidade científica internacional. Durante uma expedição de rotina, os exploradores encontraram o corpo de um homem pendurado por cordas a 1.100 metros de profundidade, em estado mumificado pelo ambiente frio e seco da caverna.

A vítima foi identificada como Sergey Kozeyev, um turista de 37 anos de Sochi que havia desaparecido em novembro de 2020. Pai de dois filhos, Kozeyev havia se preparado por mais de um ano para esta expedição solitária, estudando materiais na internet e adquirindo equipamentos básicos.

Investigações posteriores revelaram que:

  • Kozeyev não possuía experiência profissional em espeleologia
  • Seus equipamentos não atendiam aos padrões de segurança exigidos
  • Ele tentou a descida sozinho, violando todos os protocolos de segurança
  • A causa exata da morte permanece incerta (hipotermia, queda ou asfixia)

A operação de resgate do corpo durou duas semanas e envolveu dezenas de especialistas. Além do trauma emocional, havia preocupações sanitárias sérias, pois as águas subterrâneas da Veryovkina alimentam nascentes que abastecem várias cidades costeiras da região de Gagra.

Por que a Veryovkina perdeu o título de mais profunda?

Em uma reviravolta surpreendente, medições mais precisas realizadas em 2024 revelaram que a profundidade real da Veryovkina é de 2.209 metros – três metros menor que o registrado anteriormente. Esta correção técnica fez com que a caverna perdesse o título mundial para sua vizinha, a Caverna Krubera, que mantém seus 2.224 metros.

Esta mudança ilustra os desafios técnicos extremos enfrentados pelos espeleólogos. Medir profundidades com precisão a quilômetros abaixo da superfície, em condições de umidade extrema, temperatura baixa e risco constante de inundações, requer equipamentos sofisticados e técnicas avançadas de topografia subterrânea.

Apesar da “perda” do recorde, a Veryovkina continua sendo um laboratório natural incomparável para pesquisas científicas. Suas descobertas biológicas, formações geológicas únicas e sistema hidrológico complexo a mantêm como uma das cavernas mais importantes do mundo para a ciência.

Os espeleólogos do grupo Perovo-Speleo continuam explorando passagens inexploradas, acreditando que tanto a Veryovkina quanto a Krubera podem ser ainda mais profundas do que se conhece atualmente. O subsolo do Cáucaso ainda guarda muitos segredos esperando para serem descobertos.

Fonte

Veja também

Boticário relança Portinari Memórias e Felicitá, fragrâncias da linha Boticollection

Redação

Imagens do Rio de Janeiro nos anos 1920 e 1930 em cores mostram a decadncia da cidade

Redação

Livro registra a história de mulheres que tiveram papel relevante em Pernambuco; confira

Redação

Leave a Comment

* By using this form you agree with the storage and handling of your data by this website.