O tédio é meio caminho para que casamentos degringolem em crises infernais, durante as quais os dois brigam e ninguém tem razão. Episódios de infidelidade dinamitam qualquer chance de recobrar a harmonia já frágil de um tempo que parecia ditoso e chagas difíceis de cicatrizar, colocam em xeque a continuidade da relação. Vencer momentos ruins é uma prova de maturidade, sem dúvida, mas ninguém ousa dizer que não reste no fundo de cada coração um ponta de amargor, que pode muito bem evoluir para um ressentimento implacável, e daí para o ódio que corrói tudo. A situação piora sobremaneira quando o passado teima em não passar, argumento central de “A Hóspede”, série em que os colombianos Lina Uribe e Darío Vanegas esmiúçam em duas dezenas de capítulos as intenções de uma mulher vingativa, que volta de um tempo morto com um plano de desforra ousado.
Silvia e Lorenzo parecem ter sido feitos um para o outro. Ela é uma violinista de renome, dedicada à carreira, mas que sempre procurou atender o marido, agora em plena campanha pelo posto de Procurador-Geral da Colômbia, além de não descuidar de Isabela, a filha única do casal. Eles atravessavam um momento ruim quando o terapeuta deles joga-se da janela do consultório, presságio de que ainda haja entre os dois muito a ser esclarecido, e os diretores Klych López e Israel Sánchez juntam elementos do drama e do suspense psicológico a fim de prender o espectador já nos primeiros lances. Embora não falte tempo para que López e Sánchez desenvolvam uma subtrama por vez, as histórias vão sobrepondo-se, e o resultado é duvidoso. A sensação de algo inorgânico fica, apesar do esforço de Laura Londoño e Jason Day quanto a dar ênfase ao caráter instável de seus personagens.
Os protagonistas liquidavam com sexo uma ponta de desentendimento que restava quando batem à porta. A mulher identifica-se como Sonia, um nome familiar para Silvia. Trata-se de alguém que conhecera numa recente viagem de férias conjugais e que diz ter saído de casa depois de mais uma briga com o companheiro. A explicação de que achara a casa de Silvia e Lorenzo graças à fama da musicista é risível, claro, mas Uribe e Darío Vanegas subestimam a inteligência do público, passando por cima do mal-estar com toda a desfaçatez. Não fica muito claro por que ela se acha no direito de aboletar-se no palacete, preparar as refeições e meter-se na educação de Isabela, a rebelde sem causa para quem os roteiristas guardam uma dependência em drogas sintéticas. Ela vai ficando, como um parasita adoecendo um organismo já fraco, com um propósito. Qual? Uma vingança. Mas motivada pelo quê?
Londoño, Day e principalmente Carmen Villalobos tiram leite de pedra de um texto impreciso, inverossímil, artificioso, banal. Villalobos é talentosa o suficiente para prolongar sua continuidade na narrativa até o último minuto, e nota-se afinal que a intenção era apontar a loucura de Sonia — que, na verdade, chama-se Rocío. “A Hóspede” é uma série da Colômbia, mas com todo jeito de dramalhão mexicano. Não estranhe se a sua cabeça vier a música-tema de “A Usurpadora”.
Série: A Hóspede
Criação: Lina Uribe e Darío Vanegas
Direção: Klych López e Israel Sánchez
Ano: 2025
Gêneros: Drama, suspense
Nota: 7/10
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