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No Prime Video hoje: suspense de tirar o fôlego com Anthony Hopkins para ver no fim de semana

Desde sempre, a criminalidade é assunto para centenas de pesquisas, teses, documentos oficiais que tentam mapear os gargalos que deixam milhões de cidadãos em todo o planeta à margem num processo que deveria ser muito mais célere e efetivo, a inclusão social, e “Confinado” põe o dedo nessa ferida do jeito mais virulento que se possa. Comparações, sobretudo, em se tratando de produtos culturais, além de quase sempre indevidas, tendem a refletir cenários enganosos, mas em “4×4” (2019) o tema, inspirado num episódio verídico, já havia sido esquadrinhado com requinte de detalhes pelo argentino Mariano Cohn. Tão perturbador quanto original — e, quiçá, definitivo —, o roteiro de Cohn e Duprat, diretores do excelente “O Cidadão Ilustre” (2016), já fora refilmado pelo brasileiro João Wainer em “A Jaula” (2022), e vem agora reaproveitado por David Yarovesky, um cineasta independente reconhecido por seu desempenho no terror que vai se firmando também no circuito comercial. Yarovesky preserva o teor opinativo do primeiro longa, com uma exegese certeira sobre as péssimas soluções para a barbárie nossa de cada dia.

Eddie Barrish é um malandro pé de chinelo acostumado a encarar a cadeia de tempos em tempos. Isso não o impediu de tentar constituir família, e numa das primeiras cenas, ele fala ao telefone com uma ex-namorada, que lhe pede que pare de apenas prometer e busque Sarah na escola, já que a menina começa a dar evidências de que sofre com a ausência paterna. Eddie deve a pensão alimentícia, mas assim mesmo quer comprar para a filha uma bicicleta, e o roteiro de Michael Arlen Ross vale-se de uma ou outra sugestão visual a liberdade e a inocência para evitar que o público condene o protagonista de cara, embora ele não esteja nem um pouco preocupado em mudar. O diretor explica que Eddie é especialista em arrombar carros, e quando avista um imenso e luxuoso SUV preto estacionado numa garagem a céu aberto de Vancouver — com a porta destravada —, ele não pensa duas vezes e entra, sem perceber que foi fácil demais. Ele vasculha o assoalho e os nichos das portas à cata de objetos de valor, e como não acha coisa alguma, decide sair. Antes que ele bote o pé para fora, o carro, como se tivesse vida própria, se fecha. Então começa sua agonia.

Assustado, ele bate nos vidros escuros, primeiro com as mãos e os pés, depois com uma barra de ferro, mas não consegue quebrá-los. Grita por socorro, porém sua voz não rompe o paredão de aço e mantas de aramida, e ele não se faz ouvir nem quando uma mulher encosta, só para retocar a maquiagem. Por fim, ele saca do bolso o telefone e tenta chamar por ajuda, mas o aparelho não tem sinal. Uma ligação externa chega ao painel ao lado do volante, e por mais que ele a tente ignorar, o ruído não cessa jamais. Na hora em que decide atender, alguém de nome William apresenta-se como o dono do automóvel; seu captor é um obstetra idoso que já sem saber como agir diante das constantes violações, nunca resolvidas pelas autoridades, gastara mais de um milhão de dólares na enorme arapuca. Yarovesky leva seu filme para os domínios do fantástico e do terror psicológico ao abusar de primeiríssimos planos com o semblante mais e mais mortificado do prisioneiro, que William observa por câmeras de alta resolução dispostas no teto e nas laterais do veículo. Nos momentos em que Eddie esboça qualquer reação, ou abre a boca para dizer um xingamento, leva um choque.

Aos poucos, a história vai deixando suas entrelinhas menos tênues e grita-nos detalhes sem importância numa apreciação ligeira, mas que fazem toda a diferença. Anthony Hopkins faz de William um justiceiro a quem quase tudo se perdoa, em especial depois que se sabe que está morrendo de câncer na próstata e, pior, que a filha fora assassinada por batedores de carteira não muito tempo atrás. A composição de Bill Skarsgård, por seu turno, é sensível o bastante para despertar na audiência uma incômoda pena de Eddie, e é aí que o longa realiza-se como um questionamento necessário acerca do verdadeiro monstro naquele show de horrores. A reviravolta final, durante o encontro cara a cara de vítima e agressor, indigna uns e lava a alma de muitos, em mais uma prova de que a humanidade ainda está longe do progresso. Mesmo cercada de maravilhas tecnológicas que enchem os olhos.

Filme:
Confinado

Diretor:

David Yarovesky

Ano:
2025

Gênero:
Suspense/Thriller

Avaliação:

9/10
1
1




★★★★★★★★★



Fonte

Redação

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