A reaparição pública de Renato Kido, fundador da ViagensPromo (VP), gerou forte reação no mercado de turismo. Em declarações recentes, o empresário afirmou estar “resolvendo caso a caso” os prejuízos e responsabilizou assessores, ex-funcionários e agentes de viagem pelos problemas enfrentados pela operadora. O M&E ouviu ex-colaboradores, empresários e agentes de viagem que conviveram de perto com a empresa e ainda hoje lidam com as consequências da crise.
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“Uma falta de respeito”
Para Krystoffer Cavicchioli, da Alvia Turismo, o posicionamento de Kido é visto como ofensivo diante da realidade enfrentada por agentes.
“Eu acho uma falta de respeito com todos os agentes de viagem que tiveram prejuízo com a VP. Dizer que está resolvendo é mentira, porque nós tentamos. Inclusive processamos e eles não compareceram já por duas vezes, sem responder nada desde o início.”
Segundo ele, sua agência, recém-aberta à época, já começou no vermelho por conta da ViagensPromo.
“A primeira venda da nossa agência foi da VP, que não foi honrada e tivemos que arcar com o pagamento. No nosso caso não foi muito grande, mas muitos colegas tiveram prejuízos bem maiores.”
“Mais fácil jogar a culpa no outro”
Guilherme Paulus, fundador da CVC, também fez críticas à postura de atribuir responsabilidades a terceiros.
“É mais fácil jogar a culpa num terceiro ou em outro e não assumir a culpa. Mas esse trabalho tem que ser feito de acordo com o mercado. Não só o agente de viagem foi prejudicado, mas também hotelaria, empresas aéreas e receptivos. Tudo isso precisa ser levado em consideração.”
Paulus defendeu ainda a criação de um fundo garantidor para o setor de turismo, inspirado em experiências internacionais, como forma de proteger consumidores e fornecedores em casos de insolvência de operadoras, pauta essa que volta à tona em momentos como esse.
“Tivemos nossos nomes manchados”
O executivo Jorge Lima do Nascimento Júnior, ex-funcionário da VP, relatou sentir-se enganado após aceitar a proposta para integrar a empresa em 2024.
“Eu tinha 15 anos de mercado sem nunca ter tido minha idoneidade questionada. Quando fui convidado pelo Kido, recém-premiado como melhor profissional de turismo pelo veículo que publicou a entrevista dele, aceitei. Fizemos um trabalho sólido, mas em setembro de 2024 ele muda unilateralmente a forma de pagamento das comissões.”
Pouco depois, começaram os problemas com hotéis cobrando faturas não pagas.
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“Ele sempre prometia que o tal fundo resolveria tudo. Saí em janeiro de 2025, e muitos colegas ficaram com o nome queimado. Fomos tão vítimas quanto agentes e passageiros.”
“Tristeza sem fim”
Outra ex-funcionária, que pediu anonimato, relatou o impacto psicológico da crise, agravado pela reaparição pública de Kido.
“A gente está tentando se recuperar e vem isso. Renato prometeu a nós que o dinheiro do fundo havia entrado dias antes de dispensar todos sem pagar. Temos prints dessas mensagens. Nós confiamos e hoje pagamos o preço. Até hoje o trade custa a nos receber, achando que temos algo a ver com isso. É de uma tristeza sem fim.”
O mercado pede respostas
As falas refletem a indignação generalizada diante da postura de Kido. Para muitos, o empresário não apenas deixou de oferecer soluções claras, como tenta transferir responsabilidades para terceiros.
O M&E entrou em contato com Moav, Abav Nacional, Braztoa e outros players do setor, e segue aberto para ouvir todos os envolvidos, incluindo Renato Kido e sua defesa.
Relatos podem ser enviados para [email protected]
WhatsApp: (11) 98779-5732
Enquanto o empresário busca reconstruir sua imagem, as vozes de agentes, fornecedores e ex-funcionários revelam que as cicatrizes da ViagensPromo seguem abertas e sem respostas concretas.