O projeto Cidade dos Blocos, de autoria de Pedro Jorge Campello*, tem como objetivo a criação de um espaço público para produção e desenvolvimento de atividades carnavalescas, incluindo ensaios, oficinas de percussão e instrumentos de sopro, aulas de dança, espetáculos musicais e exposições de acervo fotográfico e material além de promover os blocos como uma atividade turística permanente e profissional no Rio de Janeiro.
A Cidade do Samba representa um importante investimento da Prefeitura no Carnaval carioca e a Cidade dos Blocos tem o potencial de representar o mesmo investimento, dando aos blocos de Carnaval a sua devida importância além de gerar emprego e renda no setor de economia criativa.
Em 2024 o investimento, por meio de incentivo cultural, que a Prefeitura do Rio forneceu para as Escolas de Samba que desfilam na Marquês de Sapucaí foi de R$ 40,8 milhões. Em 2022, 10 milhões de pessoas aproveitaram o Carnaval e desse total 300 mil assistiram aos desfiles no Sambódromo.
Diante desses dados duas perguntas se colocam:
1) Se 300 mil pessoas assistiram aos desfiles em 2022 e 10 milhões aproveitaram o Carnaval no Rio… 9,7 milhões de pessoas aproveitaram apenas os blocos de Carnaval?
2) Se as escolas receberam R$40 milhões, quanto os blocos receberam diretamente?
Em suma: o que a prefeitura tem feito no sentido de facilitar a vida dos blocos?
O Carnaval passou por diversas fases e o período do Regime Militar foi marcado por um esvaziamento das ruas e muitas agremiações como blocos de enredo, que disputavam competições e seguiam regulamentos, puderam se manter na ativa enquanto blocos espontâneos de caráter mais livre foram proibidos de desfilar.
Com a redemocratização do país e a criação do Sambódromo, é inegável que a ascensão do Carnaval de rua no Rio se deve totalmente aos blocos. Apesar disso, a prefeitura oferece suporte insuficiente aos blocos que ao longo do ano tem que se virar para conseguir realizar seus ensaios e oficinas e eventos.
A Cidade dos Blocos tem o potencial de dar o suporte necessário que os blocos necessitam e incrementar o soft power carioca, enquanto agrega valor à marca Rio de Janeiro enquanto destino turístico nacional e internacional. Só os visitantes de outros países injetaram R$ 6,9 bilhões na economia carioca durante todo o ano de 2024.
Segundo o Governo do estado do Rio de Janeiro, no Carnaval de 2025 foram batidos recordes de crescimento nos setores de bares, restaurantes e hotéis e o segmento de alimentação teve o melhor resultado desde 2015, com 40% de alta no período. Hotéis registram a maior taxa de ocupação: 98,62% na capital. Além disso, o impacto na economia do estado foi de R$ 6,5 bilhões.
A arrecadação de impostos estaduais e municipais alcança a cifra de centenas de milhões de Reais e os impactos positivos na economia giram na casa dos bilhões. Mas muitos blocos não tem nem onde ensaiar.
JUSTIFICATIVA PARA CRIAÇÃO DO PROJETO
As oficinas de música desenvolvidas por diversos blocos (sopro e percussão) foram e são a principal escola de Carnaval que formou milhares de novos músicos desde o início do ano 2000. Desde então esses músicos criaram centenas de novos blocos, o que resultou na explosão do Carnaval de rua do Rio de Janeiro.
Por outro lado, a falta de espaços adequados para ensaios, realização de oficinas e guarda de instrumentos, sempre foram um problema.
Recentemente a Subprefeitura da Zona Sul decidiu limitar o horário de acesso à praça Paris, por exemplo, para atender as demandas de alguns moradores da Glória, no sentido de diminuir o volume de som que incomoda os moradores.
Nesse contexto, a criação de um espaço público destinado aos blocos de rua é uma necessidade urgente tanto para os blocos como para os moradores de áreas que têm seu sossego prejudicado pelos ensaios.
A Cidade dos Blocos procura solucionar um problema que atinge a grande maioria dos blocos de Carnaval do Rio de Janeiro: a falta de espaços adequados para realização de suas atividades ao longo do ano.
COMO REALIZAR?
O local identificado para realização do projeto é o Palacete São Cornélio, com quase 5 mil metros quadrados de terreno e localizado na rua do Catete n° 06 no Bairro da Glória. A construção é uma joia da arquitetura neoclássica, foi erguido em 1862, tombado pelo Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) em 1938 e está abandonado desde 2004 após o encerramento das atividades da Faculdade Souza Marques.
O imóvel pertence à Santa Casa de Misericórdia e apresenta estado de total abandono, o que levou o Ministério Público Federal a abrir um processo em 2011 contra a Santa Casa de Misericórdia para que o bem fosse restaurado e os danos reparados.
Compreende-se que o Palacete São Cornélio é o local ideal para realização do projeto Cidade dos Blocos por conta de alguns fatores, entre eles que a região reúne muitas qualidades para que dezenas de blocos de Carnaval tenham um espaço adequado e à altura de sua importância econômica, cultural e social.
Diante do exposto solicita-se a Prefeitura do Rio de Janeiro a criação de um espaço público destinado aos blocos de Carnaval onde seja possível realizar suas atividades de forma profissional e ao longo do ano todo. A Cidade dos Blocos.
Viva o Zé Pereira!
*Pedro Jorge Campello é Mestre em Políticas Públicas Estratégias e Desenvolvimento pelo Instituto de Economia da UFRJ, além de músico e fabricante de instrumentos musicais.

