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A seleção feminina suprema da literatura brasileira de todos os tempos

Chamar de seleção não resolve o enigma, apenas o distribui no gramado. O 4-3-3 serve à leitura porque coloca frente a frente linhas de força e camadas de época. Na meta, a guardiã do idioma protege o intervalo entre voz e silêncio; a zaga mede o passo e recusa escuro gratuito; as laterais dão largura às tradições, criam corredores para o presente; o meio sustenta ética e invenção, oferece o passe que pensa; o ataque convoca risco e conclui com imagens que duram. O desenho tático não é adereço, é forma de ordenar memória.

A escalação nasceu de critérios que não cabem em cartaz: representatividade real, relevância histórica, qualidade estética comprovada na resistência do tempo e na atenção de quem lê. A equipe atravessa fases inteiras da literatura brasileira, e nenhuma data fica perdida na poeira. Há o século dezenove discutindo cativeiro, liberdade e instrução. Há modernismos afinando sintaxes, líricas que encontram cadência sem dissolver sentido. Há contos urbanos que aprenderam a respirar sob vigilância e prosas que atravessaram fronteiras atlânticas, carregando migrações, família, mitos visitados outra vez. Em cada posição, um período reivindica seu lugar sem pedir favor.

O cânone, dito assim, parece pedra; aqui se movimenta. O campo registra disputas de leitura, silenciamentos, reedições tardias, prêmios que confirmaram o que leitores já sabiam, recepções que trocaram de direção ao longo de décadas. A seleção não empresta uniforme a unanimidades. Prefere a negociação exigente entre história, linguagem e alcance. A cada toque, o passado entrega a bola ao presente sem medo de vê-la avançar.

Para arbitrar escolhas, três nomes se aproximaram do gramado com paciência de quem lê antes de listar. Os escritores Solemar Oliveira e Ademir Luiz, e o editor da Revista Bula, o jornalista Carlos Willian Leite, cruzaram calendários, ouviram bibliotecas, testaram alinhamentos possíveis. Não buscaram efeito de manchete; procuraram respeito ao percurso e pulso de frase. A lista final não pretende encerrar debates, propõe um modo de vê-los com nitidez.

Encerrada a rodada, os nomes repousam na prateleira com o sal do suor seco. As linhas do 4-3-3 ficam sob a capa fechada, prontas para o próximo deslocamento. A mão que apaga o abajur ainda sente a textura do papel; do lado de dentro, a língua treina finalizações em silêncio.



Fonte

Redação

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