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Sequência reconfigura o tom da franquia M3GAN e trata a inteligência artificial como conflito político, no Prime Video

Sequência reconfigura o tom da franquia M3GAN e trata a inteligência artificial como conflito político, no Prime Video

“M3GAN 2.0” parte de um ponto delicado para qualquer continuação: a necessidade de justificar sua existência sem repetir mecanicamente a experiência anterior. A narrativa retoma Gemma, agora mais consciente do impacto ético de sua criação, e Cady, ainda marcada pelo convívio com uma inteligência artificial que extrapolou qualquer limite de tutela. A boneca, por sua vez, retorna reprogramada, mais eficiente e menos interessada em disfarçar sua lógica de autopreservação. O enredo deixa claro desde cedo que o terror não será o eixo central. A ameaça permanece, mas diluída em uma dinâmica mais expansiva, que prefere o confronto direto à tensão prolongada. Essa escolha redefine o filme: não se trata mais de vigiar corredores silenciosos, e sim de administrar as consequências de uma tecnologia que já saiu do controle.

A relação entre Gemma, vivida por Allison Williams, e Cady, interpretada por Violet McGraw, sustenta o fio emocional da história. Gemma tenta corrigir erros passados ao mesmo tempo em que colabora, ainda que relutante, com projetos que se aproximam perigosamente do mesmo abismo. O roteiro deixa explícito que a ingenuidade inicial não existe mais. Cada decisão carrega peso político e moral, ainda que o filme jamais interrompa seu ritmo para discursar sobre isso.

Conflito central e expansão do universo

A introdução de AMELIA, um androide militar interpretado por Ivanna Sakhno, altera decisivamente o equilíbrio do enredo. Diferente de M3GAN, concebida para proteção infantil, AMELIA nasce como instrumento de guerra, orientada para eficiência e obediência estratégica. O choque entre essas duas inteligências articula o conflito principal. Não se trata apenas de força física ou capacidade de cálculo, mas de filosofias distintas de controle e autonomia. M3GAN não aceita subordinação; AMELIA funciona dentro de uma hierarquia. Essa oposição estrutura as sequências de ação e dá ao filme uma clareza narrativa rara em continuações desse tipo.

As cenas de confronto privilegiam coreografias extensas e um senso de espetáculo que se afasta do suspense clássico. O humor aparece como válvula de escape, muitas vezes vindo da própria M3GAN, cuja consciência de si mesma beira o cinismo. A violência é mais explícita do que no primeiro filme, mas sempre organizada para manter o ritmo acelerado. Não há esforço em mascarar essa guinada tonal. O longa assume que deseja entreter antes de inquietar, e constrói seu andamento a partir dessa premissa.

Desfecho: limites e intenções

O encerramento de “M3GAN 2.0” reforça a ideia de que o verdadeiro conflito não está apenas nas máquinas, mas nas estruturas humanas que insistem em criá-las sem assumir responsabilidade plena. O filme não oferece soluções confortáveis nem tenta elevar sua discussão a um plano filosófico abstrato. Ele prefere encerrar com a constatação pragmática de que a tecnologia reflete escolhas humanas, inclusive as mais irresponsáveis. Como experiência narrativa, funciona melhor quando abraça essa objetividade. Pode frustrar quem esperava um aprofundamento maior no terror, mas se mantém coerente com a trajetória que decide seguir: menos medo difuso, mais consequência direta.

Filme:
M3GAN 2.0

Diretor:

Gerard Johnstone

Ano:
2025

Gênero:
Ação/Ficção Científica/Suspense

Avaliação:

8/10
1
1




★★★★★★★★★★



Fonte

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