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Thriller de ação com Harrison Ford, baseado em best seller de Tom Clancy, vai fazer seu sangue ferver, na Netflix

Thriller de ação com Harrison Ford, baseado em best seller de Tom Clancy, vai fazer seu sangue ferver, na Netflix

Há algo de curioso, e talvez irônico, em ver Harrison Ford, o rosto mais confiável do cinema americano dos anos 80 e 90, mergulhar num thriller cujo título sugere fervor nacional, mas cuja essência é o oposto: a fragilidade daquilo que se pretende proteger. “Jogos Patrióticos” não é apenas um filme comercial de ação, é uma parábola sobre a ilusão de segurança que sustenta o cidadão médio norte-americano, essa crença confortável de que o lar, a família e o país formam uma tríade impenetrável. O filme, porém, trata de desmontar essa ideia com a precisão de um tiro certeiro: o inimigo vem de fora, sim, mas o verdadeiro pânico nasce dentro, na vulnerabilidade exposta.

Jack Ryan, vivido por um Ford em seu auge de solidez moral, é o herói idealizado da América civilizada. Ex-analista da CIA que trocou a adrenalina pela docência, ele representa o sonho do retorno à normalidade. Mas o acaso o arranca dessa bolha ao interromper um atentado terrorista em Londres, um gesto quase instintivo que o torna o alvo de uma vingança pessoal. A ironia é que Ryan é punido justamente por fazer o que o cinema patriótico sempre celebrou: intervir. A partir daí, o herói se vê obrigado a retornar à guerra, não por vocação, mas por sobrevivência.

Phillip Noyce, um diretor australiano habituado à tensão política, entrega aqui um filme que equilibra a narrativa de ação com uma atmosfera quase paranoica. Não há o glamour da espionagem à la Bond, mas uma crueza cotidiana, quase doméstica. O inimigo, um jovem terrorista do IRA interpretado por Sean Bean com olhar de fúria contida, não é uma caricatura, mas o espelho distorcido do próprio Ryan: um homem movido por convicções inabaláveis. A diferença é apenas a direção do ódio. A vingança, de ambos os lados, torna-se o combustível de um ciclo que o filme jamais tenta justificar, apenas exibir, como quem observa uma ferida aberta.

O roteiro, baseado no romance de Tom Clancy, sofre com as compressões típicas das adaptações: o enredo político é simplificado, as motivações se tornam mais lineares e o contexto do conflito norte-irlandês é tratado com certa superficialidade. Ainda assim, há algo de instigante na maneira como o filme contorna suas limitações, concentrando-se menos no terrorismo e mais na intimidade ameaçada de uma família. Anne Archer, como Cathy Ryan, e a pequena Thora Birch formam o núcleo emocional que dá peso às cenas de suspense. Quando a violência invade a casa, esse espaço que o cinema americano sempre tratou como inviolável, “Jogos Patrióticos” alcança seu ponto mais potente.

Há, no fundo, um desconforto que o filme talvez não tenha intenção de provocar, mas provoca: o patriotismo aqui é o disfarce da impotência. Ryan defende sua família com a mesma obstinação com que a América defende sua ideia de si, uma crença emocional, quase infantil, na própria inocência. E, no entanto, o que o filme mostra é um homem que mata, teme, foge, hesita. O herói clássico dá lugar a um pai vulnerável, e é nesse deslocamento que o filme encontra sua autenticidade.

Noyce, ao contrário de muitos diretores do gênero, não transforma a ação em espetáculo vazio. Seus planos são secos, tensos, quase cirúrgicos, como se quisessem evitar o prazer do heroísmo. Mesmo o confronto final, previsível em sua estrutura, carrega um peso ético: não há triunfo, apenas alívio. O mal é contido, mas o medo permanece.

Rever “Jogos Patrióticos” hoje é reencontrar o retrato de um país que ainda acreditava que podia controlar o caos. A guerra ao terror ainda não havia se tornado permanente, e o herói americano ainda acreditava que bastava “voltar ao trabalho” para restaurar a ordem. Mas o filme, talvez sem saber, antecipa o século 21 um tempo em que a moral se torna ambígua, a fronteira entre casa e campo de batalha se apaga, e o patriotismo se revela menos como virtude e mais como distração.

”Jogos Patrióticos” é eficiente, tenso e, acima de tudo, revelador. Não da política que o inspira, mas da psique que o sustenta, essa necessidade desesperada de crer que ainda há algo puro a ser protegido, mesmo que o próprio ato de proteção seja o que destrói.

Filme:
Jogos Patrióticos

Diretor:

Phillip Noyce

Ano:
1992

Gênero:
Ação/Suspense

Avaliação:

8/10
1
1




★★★★★★★★★★



Fonte

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