A história ensina: Duarte Coelho, em 1535, chegou a Pernambuco para assumir o posto de donatário da Capitania. O que ela não conta é que o fidalgo português, que se ausentava em longas viagens pelo mundo, deixava os encargos e comando das terras que ganhara da Coroa nas mãos de sua mulher Brites de Albuquerque, considerada a mãe dos pernambucanos.
Foi a nobre Brites, que veio da corte portuguesa, quem construiu e urbanizou Olinda, combateu piratas e apaziguou indígenas, tornando Pernambuco uma das capitanias mais civilizadas dos trópicos.
Após a morte do marido, em 1554, ela continuou no posto, que deveria ser ocupado pelos seus dois filhos, que à época estudavam em Portugal, e que depois, quando vieram para Pernambuco, foram convocados e mortos junto com o rei Dom Sebastião na batalha de Alcácer, na África, em 1574.
Brites, portanto, desde sua chegada até a sua morte, foi a regente absoluta das terras de Pernambuco. Chamada de “capitoa” pelos seus contemporâneos, ficou conhecida pela serenidade com que dava ordens, concedia sesmarias e distribuía autoridade.
Anna Paes
Poucos também conhecem a história da pernambucana Anna Paes, dona de engenho, que durante a regência holandesa optou por se unir à corte de Maurício de Nassau, por considerar que os holandeses eram menos machistas e violentos que os portugueses.
Ou sabem mais detalhes sobre Clara Camarão, conhecida como a mulher de Felipe, que lutou durante a Restauração Pernambucana. Muito mais do que uma esposa, a jovem indígena era uma guerreira, que mesmo após a morte do marido, continuou combatendo na retomada de Pernambuco pelos portugueses.
Também são pouco conhecidas as histórias de Bárbara Alencar, que tornou-se a primeira mulher presa política do Brasil, durante a Revolução Pernambucana, ou de Olegarinha Mariano, que ajudava a libertar escravos.
Mas essas trajetórias, assim como a de outras mulheres poderão ser conhecidas, a partir de agora, no livro “Visionárias – A presença das mulheres na História de Pernambuco”, livro escrito, assinado e editado pela jornalista Danielle Romani, com o apoio do Fundo Pernambucano de Incentivo à Cultura (Funcultura), patrocinado pelo Governo de Pernambuco.
A ideia de produzir esses relatos, que foram alvo de pesquisa nos últimos três anos, surgiu quando a jornalista percebeu que praticamente inexistia a presença de mulheres nos livros e dicionários do Estado.
A partir de ampla pesquisa, por meio de leituras e resgate de textos históricos, a jornalista decidiu tornar visíveis essas mulheres, narrando não só suas histórias como, em alguns casos, dando-lhes rostos.
“Além da inexistência de textos acessíveis, a maioria das mulheres não foram registradas, inexistem registros que possam dizer como eram. Para dotar-lhes de um rosto decidi criar ilustrações a partir de algumas narrativas sobre seus comportamentos e características físicas. Era preciso que elas se materializassem”, conta a jornalista.
Os 500 exemplares do livro foram dirigidos, prioritariamente, para escolas de ensino médio estadual e autoridades e organizações feministas de Pernambuco, além de ministras de Estado do governo federal. A finalidade é que elas, que podem promover ações efetivas, possam ajudar a divulgar e perpetuar essas mulheres.
A distribuição nas escolas, para adolescentes, também visa suprir as dificuldades da violência de gênero registrada no estado, mostrando, principalmente aos rapazes, que a mulher sempre teve ação efetiva na formação da sociedade.
O livro pode ser baixado por quem desejar conhecê-lo no link @visionárias 2025 gratuitamente, a partir desta quarta-feira (1º). Na mesma página, se poderá acessar o audiolivro para deficientes visuais e conhecer um pouco mais sobre o projeto e a distribuição de exemplares nas escolas e entre as políticas, que vem sendo realizado desde julho pela jornalista.
Confira a publicação completa aqui
*Com informações da jornalista Danielle Romani!