Ao longo de décadas, Stephen King construiu um império literário onde o terror, o sobrenatural e o drama humano se misturaram visceralmente. Seus livros dominaram o topo dos mais vendidos e se tornaram fonte inesgotável de inspiração para o cinema. King não usa apenas monstros e fantasmas, mas explora medos íntimos e universais: a solidão, a culpa, a morte e a perda de controle. Adaptá-lo para as telas exige mais que vontade, mas a habilidade de traduzir em imagens aquilo que está na mente e coração de seus personagens.
A Revista Bula encontrou na Netflix um títulos que mexem com o psicológico e o metafísico em adaptações que variam entre o horror claustrofóbico e o suspense existencial. Esses filmes não dão apenas sustos, mas convida à reflexão sobre as sombras que habitam dentro de cada indivíduo. King consegue transformar situações reais em pesadelos inesquecíveis.
As adaptações nem sempre são fieis ao texto original, mas exprimem a essência de King: personagens complexos diante do inevitável, do inexplicável e do aterrorizante. Cada uma esses filmes revela o quanto o universo é maleável e cabe tanto no realismo sombrio quanto no fantástico sobrenatural. Prontos para revisitar o mestre sob novas lentes, explorando traumas íntimos e medos ancestrais?
O Telefone do Sr. Harrigan (2022), John Lee Hancock
Um jovem solitário cria um laço inesperado com um idoso rico e recluso, lendo livros para ele em troca de pequenas recompensas. Quando o velho morre, o garoto decide deixar um celular no caixão como símbolo de despedida. No entanto, após enviar mensagens para o aparelho, ele começa a receber respostas que sugerem uma conexão impossível entre os dois mundos. Ao mesmo tempo, eventos perturbadores passam a acontecer em sua vida, levantando dúvidas sobre até que ponto esse elo é um presente ou uma maldição. Entre o luto e o medo, ele precisa lidar com consequências sombrias de sua decisão.
Campo do Medo (2019), Vincenzo Natali
Dois irmãos decidem investigar os pedidos de socorro vindos de um vasto campo de mato alto. O que parece um ato de compaixão rapidamente se transforma em pesadelo, já que dentro do labirinto natural o tempo e o espaço se distorcem. As vozes se multiplicam, os caminhos não levam a lugar algum e figuras misteriosas começam a surgir, deixando claro que a saída pode não existir. Perdidos, eles enfrentam alucinações, desespero e forças sobrenaturais que parecem brincar com sua sanidade. Quanto mais tentam escapar, mais são engolidos pela vegetação, como se o próprio campo tivesse vida e fome de presas humanas.
Doutor Sono (2019), Mike Flanagan
Um homem traumatizado pelo passado, marcado pelas visões que teve na infância, tenta reconstruir sua vida no anonimato. Ao mesmo tempo, uma jovem com habilidades especiais cruza seu caminho, buscando ajuda contra um grupo que se alimenta da energia vital de pessoas como ela. Relutante, ele percebe que precisa enfrentar não apenas esses predadores cruéis, mas também os fantasmas internos que carrega desde criança. A luta se torna tanto física quanto espiritual, colocando à prova sua capacidade de proteger a menina e, finalmente, reconciliar-se com a própria história.
1922 (2017), Zak Hilditch
Um fazendeiro decide, junto ao filho adolescente, assassinar sua esposa para manter as terras da família sob seu controle. O crime, frio e calculado, desencadeia uma espiral de arrependimento e horror. Assombrado por visões macabras e pelo peso da culpa, o homem passa a acreditar que sua vida está amaldiçoada. O vínculo entre pai e filho se deteriora, e ambos mergulham em um abismo moral sem retorno. A narrativa acompanha como a ambição e o orgulho podem destruir não apenas uma família, mas a própria sanidade, mostrando que a punição mais cruel é aquela que vem de dentro.
Jogo Perigoso (2017), Mike Flanagan
Um casal decide apimentar a relação em uma casa isolada, mas a brincadeira erótica toma um rumo trágico quando a esposa fica algemada à cama após um acidente fatal com o marido. Presa, sem possibilidade de pedir socorro, ela é obrigada a enfrentar não apenas a fome e a sede, mas também memórias traumáticas de sua infância que ressurgem como alucinações. Enquanto a mente oscila entre realidade e delírio, figuras sinistras parecem rondar a casa, aumentando a tensão. O verdadeiro desafio passa a ser sobreviver aos próprios fantasmas internos e encontrar uma saída antes que seja tarde.