Divulgação / Netflix
Acompanhar a narrativa não é suficiente para determinados filmes. Algumas obras foram feitas para você se perder nelas. Enredos feitos sob medida para desafiar sua percepção e embaralhar a lógica temporal e dissolver as fronteiras da realidade e imaginação. Ao contrário das histórias lineares e confortáveis, há filmes que são enigmas visuais e narrativos que obrigam quem assiste a questionar cada detalhe, cada fala e corte de câmera.
A experiência pode frustrar os impacientes e recompensar quem aceita a confusão como parte do jogo. Mas atualmente as produções audiovisuais parecem repetir a mesma fórmula segura muitas vezes, mergulhando em roteiros previsíveis e confortáveis. Abraçar a confusão pode ser libertador quando você entende que não precisa decifrar tudo. A interpretação é individual e depende das experiências culturais, de ambiente e realidade de cada um.
As obras a seguir não foram feitas para dar respostas de mão beijada. Pelo contrário, mergulham em perguntas, desorientação e contemplação. Para muitos, o sentimento de desorientação é justamente o que marca e torna o filme inesquecível. Essas joias da estranheza, produções que misturam filosofia, surrealismo, manipulação do tempo e realidades distorcidas não são indicadas para quem quer um sono leve e um entretenimento confortável. Elas são feitas para quem está disposto a embarcar em um exercício obsessivo de interpretação. Perca o medo de não entender, porque isso faz parte da experiência e, talvez, seja exatamente o que torna esses filmes magnéticos.
O Astronauta (2024), Johan Renck

Um homem isolado no espaço lida com a solidão e a iminente falha de sua missão, enquanto descobre uma criatura misteriosa escondida em sua nave. A convivência com esse ser, que mistura estranheza e sabedoria, o força a enfrentar lembranças e fantasmas de sua vida na Terra. A jornada deixa de ser apenas científica e se transforma em uma reflexão íntima sobre arrependimentos, perdas e conexões humanas. Entre o silêncio do cosmos e as vozes de sua própria mente, o astronauta se vê dividido entre sobreviver e encontrar sentido.
Bardo: Falsa Crônica de Algumas Verdades (2022), Alejandro González Iñárritu

Um jornalista e cineasta retorna ao seu país de origem e se vê confrontado por memórias, crises identitárias e um turbilhão de imagens oníricas. Sua jornada mistura o real e o surreal, transformando cada momento cotidiano em um espetáculo carregado de símbolos. Entre críticas sociais, revisões pessoais e delírios visuais, ele enfrenta a dificuldade de conciliar sucesso, pertencimento e o vazio existencial. A fronteira entre sonho e realidade se dissolve, criando um fluxo de cenas que mais confundem do que explicam — e talvez seja exatamente esse o ponto.
Estou Pensando em Acabar com Tudo (2020), Charlie Kaufman

Uma jovem viaja com o namorado para conhecer seus pais, mas a viagem rapidamente se transforma em um mergulho surreal na instabilidade da mente humana. As conversas ganham tons estranhos, o tempo parece se distorcer e a identidade dos personagens se torna fluida. Memórias, fantasias e fragmentos de consciência se entrelaçam em um retrato perturbador da solidão e da incomunicabilidade. O que começa como um encontro familiar revela-se uma reflexão sobre o peso do tempo e a fragilidade da existência.
Tenet (2020), Christopher Nolan

Um agente secreto é recrutado para uma missão que ultrapassa as leis tradicionais da física: impedir uma catástrofe global ligada a uma tecnologia capaz de inverter o fluxo do tempo. À medida que se envolve com aliados e inimigos enigmáticos, descobre que sua própria percepção do passado, presente e futuro se torna instável. A cada confronto, precisa lidar não apenas com armas e conspirações, mas com a própria lógica temporal se voltando contra ele. O que parece familiar se fragmenta, e a linha entre ação e consequência se desfaz.