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“30% do nosso resultado vem de tokenizacão de ativos”, diz CFO do Mercado Bitcoin

O mercado cripto brasileiro vem passando por uma revolução há alguns anos – nada silenciosa, diga-se de passagem. Ao mesmo tempo em que parte dos players mantêm um pé no trade clássico de criptomoedas, eles também têm aberto cada vez mais espaço para a renda fixa digital. Algo esperado, visto que os locais amam um investimento atrelado ao CDI, ainda mais com os juros na casa dos 15% ao ano.

Um do exemplos dessa transformação é o Mercado Bitcoin (MB), maior exchange brasileira. Criada em 2013, originalmente como plataforma para compra e venda de Bitcoin e altcoins (termo usado para identificar qualquer cripto diferente do BTC), a empresa expandiu seu braço de tokenização, que hoje já representa quase um terço dos resultados da empresa.

“Hoje, 40% das pessoas da empresa estão alocadas nessa área. Eu diria que 30% do nosso resultado já vem da tokenização de ativos”, contou André Gouvinhas, chief financial officer (CFO) do MB, em conversa com o InfoMoney, em São Paulo.

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A tokenização é o processo de transformar ativos em tokens na blockchain. Para pequenas empresas, esse modelo se tornou alternativa à emissão tradicional de dívidas, já que é mais rápido e barato – leva entre 30 e 45 dias, enquanto no sistema bancário pode demorar de três a seis meses.

Do lado do investidor, o ganho aparece na rentabilidade. “Em renda fixa digital, a nossa rentabilidade média foi de 132% do CDI em 2025. Então, se a gente está falando hoje em um CDI de 15%, a rentabilidade é de quase 20%, em média”, disse Henrique Pocai, diretor comercial do MB.

De imóvel que custa milhões a caminhões

O MB realizou cerca de 350 emissões até agora, com distribuição mensal em torno de R$ 150 milhões. Entre 2019 e 2024, o volume chegou a R$ 1 bilhão; só em 2025, outro R$ 1 bilhão foi distribuído. A meta para este ano é chegar a R$ 1,5 bilhão.

Entre os exemplos recentes, em setembro deste ano a exchange e a startup Rooftop lançaram um token imobiliário lastreado em um imóvel de R$ 23 milhões, com rentabilidade de IPCA + 13%. Já em março, foi lançado o primeiro token internacional da plataforma, estruturado em parceria com a Billor, startup que atua nos EUA, com remuneração de dólar + 8% ao ano.

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O braço de tokenização do MB se divide entre clientes de varejo, investidores de alta renda (a partir de R$ 300 mil) e, mais recentemente, clientes com patrimônio ainda maior. “É um público que precisa de atendimento diferenciado para entender ativos digitais, tanto cripto quanto tokens. Vimos essa demanda crescer e criamos esse canal”, disse Pocai.

A empresa também atua no B2B, com mais de 100 parceiros.

Limitações e riscos

Apesar da expansão, a tokenização no Brasil ainda enfrenta desafios. Hoje, a principal regulação é a Resolução CVM 88, que trata de ofertas públicas de valores mobiliários via crowdfunding. A norma permite emissões tokenizadas, mas restringe o perfil das empresas emissoras (pequeno porte), o volume captado e limita fortemente o mercado secundário – que só pode ocorrer em ambiente controlado pela plataforma, sem negociação livre em bolsas ou corretoras.

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Nesta semana, a CVM abriu consulta pública para atualizar essas regras. Entre as propostas estão a inclusão de novos emissores, novos limites de captação e a possibilidade de recompra dos valores mobiliários. Para especialistas, a revisão sinaliza uma tentativa de equilibrar inovação e proteção ao investidor. 

“A inclusão de novos emissores e a possibilidade de integração com canais tradicionais de distribuição de valores mobiliários (como agentes autônomos e corretoras) indicam que a CVM busca criar um modelo híbrido, onde inovação regulada e proteção ao investidor andem juntas”, disse Tiago Severo, sócio do Panucci, Severo e Nebias Advogados, head das práticas de cripto e tokenização do escritório.

Do lado do investidor, os riscos precisam ser ponderados. O principal é o risco de crédito – a possibilidade de o emissor não honrar os pagamentos, que também ocorre com aplicações como CDBs e LCIs e LCAs. Porém, esses produtos mais tradicionais têm a cobertura do Fundo Garantidor de Créditos (FGC), enquanto os tokens de renda fixa não contam com essa proteção.

Outro ponto é a liquidez. Tokens emitidos via CVM 88 não têm mercado secundário amplo. Na prática, o investidor precisa estar preparado para carregar o ativo digital até o vencimento.



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Redação

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